segunda-feira, 8 de outubro de 2007

"Foda-se"

Por motivos sérios - normadismo, vicio, etc - entro num cybercafé. Cavalheiros circunpectos lêem o correio electronico, duas aldolescentes teclam no msn, rapazes em jogos online, um bloguer ali ao fundo. Os rapazes excitam-se com os jogos de guerra e a agudização do combate, e desatam numa onda de palavrões. O meu dicionario, que é razoável, enriquece-se, sobretudo porque eles falam alto. Ao fim de meia hora levanto-me e vou fumar um cigarro; aproveito para perguntar ao encarregado da loja se não pode dizer aqueles palermas para falarem mais baixo. Ele responde-me que é um espaço público. Eu digo-lhe que sei o que é um espaço público mas que gritar "foda-se lá a gaja maizó caralho" não me parece exemplo acertado. Ele promete fazer qlq coisa e vou a porta, que dá para a rua, fumar um cigarro. Um pai leva as duas filhas (sete, oito nove anos?) ao cybercafé e ouve a conversa. Parece-me que ficou apreensivo e olha lá para dentro, mas o rapaz da loja murmura qlq coisa sobre «pessoas que não compreendem o que é um espaço público» nem o espirito rebelde dos adolescentes que de vez em quando gritam «foda-se». O pai olha pra mim e apesar do meu ar perplexo, vejo que acaba por concordar com o energúmeno: claro, é preciso perceber isso, os miúdos diante do computador dizem sempre um caralho de vez em quando, pá, isto é assim mesmo, não tem mal nenhum, foda-se. Sinto-me um reaccionário num cybercafé de bairro de classe média. A classe da classe média já mudou, foda-se. Melhor, a tolerância e a pedagogia foderam-na. Estamos Fodidos...
"Francisco José Viegas"

1 comentário:

AnaeMané disse...

fata-se joao, este texto ta o máior do mundo. Amei! reaccionário do cybercafe lol..que perola preciosa

ana